FANZINE: definições, características e processo construtivo

O que é esse tal de fanzine? É comum ouvir esse tipo de pergunta por parte de muitas pessoas, já que a palavra fanzine pode causar estranheza naqueles que nunca tiveram contato com este tipo de impresso. Em razão disso, faz-se necessário conhecer seu significado.
Alguns estudiosos definem zines como uma publicação independente e amadora que se assemelha a jornais e revistas, visto que agrega variados tipos de textos e imagens. Eles são impressos em fotocópias ou pequenas impressoras e, geralmente, não alcançam grandes tiragens.
Guimarães (2005, p. 11) assim o explica:

[...] o termo fanzine se disseminou de tal forma que hoje engloba todo tipo de publicação que tenha caráter amador, que seja feita sem intenção de lucro, pela simples paixão pelo assunto enfocado. Assim, são fanzines as publicações que trazem textos diversos, histórias em quadrinhos do editor e dos leitores, reprodução de HQs antigas, poesias, divulgação de bandas independentes, contos, colagens, experimentações gráficas, enfim, tudo que o editor julgar interessante.

De acordo com essa definição poderíamos, então, tomar o fanzine como um veículo que possibilita uma escrita diversificada e livre onde o fanzineiro[1] tem a liberdade de expressar sua opinião sob diferentes formas. Além disso, Guimarães (2005) faz menção ao fato de que esse dispositivo comunicativo não visa o lucro, pois não conta, na maioria das vezes, com a colaboração de patrocinadores. Nesse caso, o que move o editor na feitura de seus zines é somente a paixão pelo assunto trabalhado.
Para Meireles (2008, p. 10):

Os fanzines, ou zines, são projetos pessoais que se concretizam através da publicação em máquinas fotocopiadoras (chamadas de “xerox”) ou gráficas rápidas. Com tiragens pequenas, que podem variar de 10 a 3.000 exemplares, são pequenas mídias e, se comparada aos veículos da grande imprensa, são mídias minúsculas. É um veículo de comunicação que serve como suporte para uma mensagem com potencial de tornar-se vetor de uma rede de interlocutores acerca de determinado assunto. É também uma obra de arte em si, dado o seu caráter pessoal, artesanal e criado dentro de uma proposta estética.

Cabe salientar que na concepção da escritora, zine é um dispositivo comunicativo e, simultaneamente, uma obra de arte. Montados artesanalmente de acordo com a vontade do produtor e depois reproduzidos em máquinas fotocopiadoras, fanzines combinam diversos textos e imagens que, em conjunto, objetivam transmitir uma mensagem a sociedade.
Na concepção de Nascimento (2010, p. 606):

Os fanzines, sejam eles de quadrinhos, música em geral, atualidades, poesias, políticas, são mídias que defendem pontos de vista de indivíduos e grupos sociais que tem suas vozes excluídas do discurso oficial da mídia comercial. Estas publicações independentes são criadas a partir de uma vontade de tornar público aquilo que realmente nos afeta, assim, com o intuito de veicular ideias que esbocem opiniões e, principalmente, formas de se fazerem pulsantes na sociedade, tornam-se instrumentos de amadurecimentos para a tradução do real vivido.

Curioso notar que para essa escritora os fanzines elaborados de forma individual ou coletiva, apresentam-se como potentes objetos que defendem visões de mundo antes não expressas ou já expressas, porém excluídas do discurso oficial da mídia comercial. Nesse contexto, o zine se configura como um porta-voz, ou seja, como um artefato de livre expressão que oferece vez e voz aos pensamentos, ideias e movimentos daqueles que querem se fazer presentes e/ou pulsantes na sociedade.
Como vimos, diversas definições sobre o que vem a ser fanzine surgiram ao longo dos anos. No entanto, como bem ressalta Meireles (2008), os conceitos elaborados para esse dispositivo, assim como as ideias relacionadas à sua utilidade e finalidade se multiplicam, mas não se anulam, pelo contrário, elas se sobrepõem e se complementam.
É importante destacar que sob a percepção de Maranhão (2012, p. 29), traçar um conceito definitivo para fanzine não deve ser motivo de preocupação em primeira instância. Para a autora, existe algo muito mais importante do que isso, que “é ver o modo como ele vai assumindo novas formas, liberando novas potências, se tornando um objeto cada vez mais complexo”. Ainda segundo os pensamentos da escritora não adiantaria “impor-lhes uma identidade que não lhe pertence (p. 29). Pois sendo, um “objeto dinâmico e rizomático por natureza, se fez perceber em tantos lugares e foi construído a partir de tantas linguagens, que seria injusto lhes impor uma forma (p. 29).”
A partir do que foi pesquisado, pode-se traçar algumas características peculiares a esse instrumento multifacetado e a seu processo construtivo ao invés de buscar defini-lo. Dentre as quais, destacam-se: a) produção artesanal, quase sempre, de pequena tiragem (NASCIMENTO, 2010); b) independência do editor no processo de construção e distribuição dos seus zines (MAGALHÃES, 2004); produção de baixo custo financeiro (BRAGA, 2011); c) exercício da criação e da arte (ANDRAUS; NETO, 2010); d) linguagem aberta, despojada, liberta aos padrões editoriais de mercado (LIMA; MIRANDA, 2010); e) materialização de subjetividades e sociabilidades (MUNIZ, 2010); f) não possuem finalidades lucrativas (NASCIMENTO, 2010); e, g) possibilita a abordagem de uma infinidade de temáticas (LIMA; MIRANDA, 2010).
Em relação a seus aspectos técnicos e produtivos, pode se perceber que, no geral, eles são feitos artesanalmente (Figura 3), isto é, com desenhos à mão, colagens, montagens, gravuras, xerox, grampeados em casa etc. Há, também, aqueles que são editados em computador e reproduzidos em gráfica (Figura 4). Uma terceira maneira, simples e econômica, de se produzir um fanzine é pela internet. Neste caso, ele é chamado de fanzine virtual (Figura 5) ou e-zine (CAMPOS, 2009).

Figura 3 – Zines produzidos artesanalmente por participantes de oficinas de fanedição desenvolvidas na Faculdade de Educação de Itapipoca, em Itapipoca-CE, no ano de 2011.
Fonte: Arquivo pessoal dos autores

Figura 4 – Capa e Editorial[2] do fanzine A DESentediante Respiração Celular, editado em computador e levado para exposição dialogada em oficina de fanedição desenvolvida na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza-2017. Capa e Editorial da autoria de Xeêna Lima e Jéssyka Melgaço, respectivamente.

 
Fonte: Arquivo pessoal dos autores   


Figura 5 – Página do e-zine Barata Elétrica.
Fonte: <https://sites.google.com/site/barataeletricafanzine/>
Acesso em: 23 jul. 2017

Maranhão (2012, p. 30-31) assinala que os fanzines:

Podem ser feitos a partir de colagens, da execução de desenhos livres, da utilização de softwares, da combinação de tudo isso junto ou ainda de outras técnicas que possam ser inventadas. Possuem formatos diferentes, podendo até mesmo ter o tamanho de 1cm2 ou serem do tamanho de uma folha que caiba em uma máquina de plotagem, por exemplo. Podem ainda ser coloridos ou em preto e branco, sendo diversificada também a possibilidade de escolha do papel a ser impresso. A decisão de coisas como essas, em uma superfície tão repleta de liberdade, depende da combinação de, pelo menos, dois fatores: criatividade do faneditor e a disponibilidade de recursos materiais e financeiros.

Dessa maneira, para confecção artesanal de um fanzine comumente são utilizados diversos materiais, tais como: papel A4, cola, tesoura, revistas e jornais velhos, caneta esferográfica preta, máquina de xerox, grampeador, dentre outros.
Qualquer fanzine parte inicialmente de um planejamento. Neste sentido, é necessário decidir, primeiramente, os assuntos a serem abordados e, secundariamente, o modo como eles serão apresentados. Além disso, deve-se determinar o formato que o zine possuirá. Isso inclui o tamanho, o número de páginas, a técnica a ser usada, etc. Uma vez visto isso, cabe ao faneditor escrever sobre o assunto escolhido no computador ou a mão livre com letra legível. Tal escrita poderá ser jornalística, em prosa ou poética, ou em outros estilos que o autor julgue pertinentes.
Tendo realizado os procedimentos anteriores, é útil buscar ou criar imagens que dialoguem ou que complementem os textos. Cabe mencionar que algumas vezes, as imagens falam por si só, podendo ser coladas ou desenhadas sozinhas numa página inteira. Em seguida, é preciso que o faneditor monte uma espécie de livrinho, onde as páginas devem ser numeradas e colocadas em ordem.
Na sequência, o faneditor deverá fazer a revisão do boneco[3]. Se a produção estiver da forma como ele planejou, o zine já está pronto para ser copiado em máquinas de xérox. Após a reprodução, montam-se as cópias. Depois de aprontados, ocorre a distribuição dos mesmos.
Podemos identificar, então, quatro etapas básicas no processo construtivo de zines: planejamento, produção, reprodução e distribuição. A primeira etapa consiste na escolha do tema e na busca de elementos (imagens ou textos) que se relacionem com o assunto escolhido. Na segunda fase, o autor do fanzine trabalha com diagramação e edição, entre outras tarefas. Logo após, ocorre, basicamente, a reprodução do zine em máquinas copiadoras. Depois de reproduzido, ele é montado e distribuído para quem o autor julgar interessante.
 De acordo com o exposto, nota-se que o trabalho com os fanzines é quase totalmente artesanal com exceção da prática de xerografar a folha pronta, possibilitando o uso livre da escrita, imaginação, arte, criatividade, curiosidade, raciocínio, atenção e reflexão por parte daquele que o realiza. É diante do desenvolvimento destas e de outras habilidades que surge o interesse da sua utilização em espaços de aprendizagens. Em função disso, o próximo item trará discussões e reflexões pertinentes sobre a relevância do fanzine enquanto recurso educativo.




[1] Chamamos de “fanzineiro”, “faneditor” ou “fanzineditor” o sujeito que idealiza, produz, reproduz e distribui seus fanzines.
[2] O editorial é um tipo de texto utilizado na imprensa, especialmente em jornais e revistas, que tem por objetivo informar, mas sem obrigação de ser neutro, indiferente. É comum se ter uma seção chamada Editorial na mídia impressa. VILARINHO, Sabrina. "O Editorial"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/redacao/o-editorial.htm>. Acesso em 24 de jul. 2017.
[3] Nome atribuído ao fanzine original.

1 comentários:

Unknown disse...

ta escrevendo a biblia colega? adorei a escrita e o conteudo me ajudou bastante , so acho q vc poderia fazer um resumo sobre , mas fora isso mt bom

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