Para Maranhão (2012, p. 8):
É difícil afirmar com certeza
qual o primeiro fanzine surgido no mundo. Objeto situado fora do sistema
comercial e editorial, muitas vezes não catalogado e arquivado, podendo ser
produzido dentro de cômodos de casas comuns ou não, é quase impossível saber
exatamente onde e quando pessoas tiveram a ideia de fazer seu próprio
jornalzinho e distribuir a amigos mais ou menos próximos.
Entretanto, valendo-se de
alguns estudos que foram realizados até o momento presente, parece unânime
considerar que o fanzine teve origem nos Estados Unidos na década de 1930. Eles
foram criados pelos fãs de ficção científica da época para divulgar seus
trabalhos autorais fora do circuito profissional e comercial (MUNIZ, 2010). O
termo fanzine só veio aparecer algum tempo depois, mais precisamente, em 1941
quando foi criado por RussChauvenet.
Magalhães (2004, p. 11), produtor
de fanzines e escritor, detalha a gênese dos fanzines em uma de suas obras
literárias:
Foi no começo do século XX, nos Estados Unidos, que surgiu a
primeira onda de fanzines, inicialmente voltados à ficção cientifica (FC),
gênero literário ainda tratado como subliteratura. O primeiro de que se tem
registro foi The Comet, criado em maio de 1930 por Ray Palmer para o Scinece
Correspondance Clube, seguido por The Planet, em junho do mesmo ano, editado
por Allen Glasser para o The New York Scienceers.
Depois da sua criação nos Estados Unidos os zines
rapidamente disseminaram-se pelo mundo. A priori, eles eram produzidos por um
fã ou por um grupo de fãs para tratar de ficção científica ou temas afins. Ao
longo do tempo, outros assuntos começaram a ser divulgados através destas
mídias e elas trataram de se espalhar pelos mais diversos lugares do mundo,
alcançando muitos admiradores e praticantes. Para ilustrar essas considerações,
Braga (2011) fala resumidamente sobre a propagação dos fanzines em países como
Inglaterra, França, Portugal, Suécia, Itália, Bélgica e Espanha.
O primeiro país a seguir o
exemplo dos Estados Unidos foi à Inglaterra, que iniciou as suas publicações a
partir de 1936, para difundir a cultura punk (suas ideias, bandas de música,
modos de ser); na França, em 1962, os fanzines eclodiram difundindo trabalhos
de quadrinistas que se situavam fora dos grandes contextos editoriais; em
Portugal, o mesmo ocorreu no ano de 1944; na Suécia, os fanzines foram
publicados em 1989 e apresentavam temática voltada para a criticidade. Além dos
países citados, os fanzines também alcançaram adeptos na Itália, Bélgica e
Espanha (BRAGA, 2011, p. 30).
Já no Brasil, a prática
zinesca apareceu somente 25 anos depois do seu surgimento nos EUA. Segundo
Guimarães (2005, p. 14), o primeiro fanzine de que se tem registro em nosso
país é o Ficção (Figura 1),
criado por Edson Rontani na cidade de Piracicaba (SP), no ano de 1965. Nesse
período, as publicações amadoras eram chamadas de boletins, pois no Brasil o
termo fanzine só passou a ser utilizado muitos anos depois da sua
chegada.
Figura 1 – O
Fanzine Ficção de Edson Rontani.
Fonte:
<http://images.universohq.com//2015/10/Fanzine-Fic%C3%A7%C3%A3o.jpg>
Acesso em: 23
jul. 2017
Contudo, um estudo mais
recente e detalhado realizado acerca da origem e do desenvolvimento do fanzine
no mundo e no Brasil demonstra que o primeiro zine criado em território
brasileiro não teria sido o Ficção, e sim O Cobra (Figura 2). De acordo com Maranhão
(2012, p.16), pesquisadora responsável pelas buscas, este último “fora criado
como órgão interno da I Convenção Brasileira de Ficção Científica que aconteceu
de 12 a 18 de setembro de 1965 em São Paulo”. A publicação de O cobra antecedeu,
portanto, a publicação de o Ficção que ocorreu no mês de outubro do
mesmo ano. Para a referida autora, este acontecimento mudará parte da história
que se conhece sobre o início das atividades de fanzinagem que envolvem apaixonados
por ficção no Brasil.
Figura 2 – Fanzine
O cobra (de Convenção Brasileira), primeiro fanzine nacional conhecido.
Fonte: < http://rscauso.tripod.com/fandemonio/>
Acesso em: 24
jul. 2017
Como já foi visto, é
sabido que os primeiros fanzines no Brasil surgiram na cidade de São Paulo,
porém não demorou muito para que os mesmos chegassem aos demais estados brasileiros e, diga-se de passagem, isso
ocorreu num período de tempo relativamente curto, acontecendo em menos de 12
anos. Durante essa temporada, os fanzines assumiram diferentes formas e
abordaram temas variados (quadrinhos, poesia, música, receitas culinárias,
ficção científica, educação, ecologia etc.) que perduram até a atualidade.
No Ceará, a cidade de
Fortaleza destacou-se por possuir uma intensa atividade zínica. Teve-se nesse
local um número elevado de produção e trocas de fanzines que ocorreram em
eventos, ambientes e em períodos diversos. Desse modo, na concepção de Meireles
(2010, p. 100), escritora e também fanzineira de destaque na capital cearense:
(...) Fortaleza foi o lugar onde os zines, seus conceitos, propósitos e significados se multiplicaram. Através de conversas em praças e paradas de ônibus, trabalhos acadêmicos, cartas, porres em mesas de bar, escolas, internet, Zine-ses, seminários, palestras, oficinas. Produção, fruição e crítica. É aqui que temos com frequência vários espaços (de tempo e espaço físico!) para produzir sozinho ou em grupos, para apreciar o que é produzido e para falar sobre isso, repartir impressões com outros.
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