A relação entre fanzine e educação vem ganhando
visibilidade nos últimos tempos. Isso se deve ao fato de que, cada vez mais,
eles se transportam para o universo da sala de aula, ao mesmo tempo em que, por
intermédio de pesquisas como esta, vem se constituindo em prática refletida.
Meireles (2008, p. 58), uma das pioneiras na
pesquisa sobre uso de zines em contextos educacionais, aponta para o fato de
que:
Os benefícios do uso dos
zines no contexto escolar são vários. A troca de saberes e descobertas em grupo
resultam na criação de laços afetivos e na valorização de aspectos do cotidiano
comum, importantes na criação de identidade. Numa oficina, o contínuo exercício
de alteridade pode refinar a habilidade para relações humanas também fora
daquele contexto. Trata-se também de uma possível nova forma de avaliação, já
que a produção de zines pode mapear dificuldades na escrita em vários níveis.
Podem ser aplicados como exercícios de leitura, escrita, oralidade e do saber
ouvir o outro. O incrível potencial interdisciplinar dos zines compreende a
familiaridade com novas tecnologias digitais, o registro histórico espontâneo
da língua e contexto social, o estreitamento dos laços pais-amigos-escola, já
que cria situações reais de comunicação.
Em dias contemporâneos é possível encontrar na
literatura trabalhos que anunciam a relação que se estabelece entre educação e
fanzinagem. Trata-se de algumas experiências exitosas resultantes do
desenvolvimento de atividades com a utilização de zines em diferentes situações
e em variados níveis de ensino.
Campos (2009), por exemplo, em seu estudo,
levantou e respondeu os seguintes questionamentos: o que se aprende com zines?
O que move um professor da escola formal na decisão de fazer uma atividade
envolvendo zines na sala de aula? Ancorada nessas questões, a pesquisadora
propôs aos estudantes da Educação Básica, em Minas Gerais, oficinas de
fanzines. Nelas, os estudantes foram incentivados a refletir, escrever e trocar
impressões sobre diferentes temas de suas preferências (mídia, rede, eleições,
etc.).
Ao final do estudo, a autora concluiu que a partir
da publicação de fanzines, é possível para o professor aprimorar a capacidade
dos alunos de pesquisar informações relevantes, levantar um olhar crítico sobre
o cotidiano e sobre os conteúdos abordados nas diversas disciplinas, produzir
uma mídia comunicativa que expresse ideias, combinar textos e imagens e,
também, desenvolver a criatividade.
Trazendo um recorte de uma outra pesquisa, Mello
(2014) e seu estudo fornecem direcionamentos mais específicos e profundos
acerca da aplicabilidade das imagens combinadas a textos que, geralmente,
aparecem nos zines. A autora nos diz que é na possibilidade de confundir as
características textuais e imagéticas da palavra, na desordem potencializada
pelo choque do dado imediato da imagem, que se encontra a potência da estética
dos fanzines e das técnicas de cut-up[1].
A utilização destes recursos, contudo, ainda é bastante tímida no campo da
Educação. Então, por intermédio de pesquisas como esta, espera-se mostrar a
força deste aparato estético e, ao mesmo tempo, incentivar o uso dessa
estratégia nos processos pedagógicos e/ou artísticos.
Nessa mesma linha de reflexão, Silva (2014) reconhece que a produção de imagens pode, com
sucesso, relacionar ciências, arte e meio-ambiente. A experiência do autor
levou alunos do curso de Ciências Biológicas, por ocasião da disciplina
“Imagens de Natureza no Ensino de Ciências”, a transitar entre o fazer pesquisa
e a produção de um artefato artístico e cientifico, simultaneamente. Para
tanto, os estudantes tiveram que registrar através de uma câmera fotográfica
convencional imagens que descrevessem cotidianos, alimentadas pelas
representações da natureza.
Prosseguindo com as análises, encontramos Andraus
(2014) que, a seu modo, retrata a potencialidade dos fanzines enquanto revistas
independentes, criativas e interdisciplinares, criadas pelos alunos. Zines,
para o autor, funcionariam como catalisadores de ideias dos jovens, já que,
tendem a colocar esses sujeitos na condição de laboratórios de seus processos
criativos e até mesmo de seus autoconhecimentos. Por tudo isso, zines podem,
apesar de insuficientes como único recurso educacional, ajudar no caminhar de
uma nova maneira de integrar na educação desses jovens os tão desejados
aspectos formativos, éticos e morais.
Bezerra e Santos (2016) contam que propuseram uma
oficina de zines para que estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), em
Maceió-AL, pesquisassem e debatessem sobre a temática, Ecologia e Impactos
Ambientais.
As autoras dizem que, por intermédio da prática
zínica, os educandos puderam produzir conhecimentos e que esses saberes foram
amparados pela bagagem sociocultural que os estudantes já apresentavam. Vale
ressaltar que, nos fanzines analisados, observou-se mensagens sobre impactos
ambientais de atividades humanas, noções sobre as alterações na vegetação
nativa, os problemas gerados pelo acúmulo de lixo no ambiente urbano e a necessidade
urgente de conscientização ambiental. Frente a essa abordagem diversificada, é
bastante crível que, os sujeitos envolvidos, a sua maneira, se colocaram na
posição de pesquisadores, quando na tarefa de elaborar seu fanzine.
Bezerra e Santos (2016) concluem que é possível
propor, no chão da sala de aula, práticas capazes de estabelecer diálogos e
articulações entre o conhecimento prévio e o conhecimento científico,
vislumbrando, nos discentes, uma mudança de comportamento e um olhar sobre si e
sobre a realidade que o cerca.
Rehem et al.
(2012) apoiam a premissa de que os quadrinhos, entre outras alternativas
lúdicas, também podem ser usados, de forma bem-sucedida, nas avaliações de
aprendizagens, amenizando os momentos de tensão tradicionalmente relacionados
aos processos avaliativos das escolas. A experiência narrada pelos autores
demonstrou que os materiais complementares de ensino (quadrinhos, filmes,
músicas, etc.) podem contribuir de maneira significativa, aguçando a interação
entre professores, alunos, seus pares e o mundo social. Essas iniciativas
podem, na formação docente, de outro modo, trazer novas expectativas e
motivação para que os professores permaneçam na profissão.
Reis Neto,
Serillo e Nascimento Junior (2014), desenvolveram um trabalho pautado na
construção da metodologia chamada “O Livro dos Biomas”, que fora desenvolvida
numa ação pedagógica do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, da
Universidade Federal de Lavras – MG, como forma de construção dos conhecimentos
referentes a essa temática. Na discussão da metodologia e do recurso, os
autores elencam as seguintes vantagens: a) favorece a visualização de aspectos
práticos do tema, já que estabelece um trabalho dinâmico com imagens, gravuras,
no qual o educando consegue observar aspectos teóricos; b) trabalha duas
perspectivas, ‘macro’ e ‘micro’, no desenvolvimento de conceitos teóricos e na
compreensão de outros elementos que compõe o bioma; c) incentiva o aprendizado
por ter em sua construção a participação ativa dos alunos; d) aprecia os
conhecimentos prévios dos alunos; e) abre possibilidades de propostas
interdisciplinares, aliando-se a Língua Portuguesa, Geografia e História e, f)
valoriza o trabalho grupal. Assim, Reis Neto, Serillo e Nascimento Junior
(2014) chegam à conclusão de que a metodologia apresentada soma um rol de
possibilidades práticas e fáceis para o educador, podendo ser uma estratégia
dinâmica para o ensino de botânica com enfoque nos biomas do Brasil.
As discussões empreendidas anteriormente
permitem vislumbrar que não existe um modo definitivo de como os zines podem
ser trabalhados no ensino de biologia, bem como nos espaços escolares, em geral.
De outro modo, temos indícios de que eles podem constituir-se potentes
ferramentas educativas na tarefa de promover a aquisição e socialização dos
conhecimentos, inclusive, os de natureza científica e, por conseguinte, a
aproximação destes com a arte.
[1] Para Mello (2014) o método
dos cutups tem como objetivo produzir
um pensamento efetivado por imagens, por processos analógicos, utilizando corte
e colagem tanto em textos escritos quanto em gravações de áudio ou filmagens, em detrimento do circuito
lógico-sintático imposto como primeira instância reflexiva pela linguagem.
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